terça-feira, 20 de abril de 2010

Blablação.


"Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer."
(Álvaro de Campos)

Existe, no teatro, uma técnica de improviso e treinamento de dicção e fala cujo nome é Blablação. A técnica consiste em falarmos com palavras desconhecidas, emitindo sons sem nexo algum, de modo que pareça que estamos falando em outra língua, totalmente desconhecida pelos ouvintes. Gesticula-se, esbraveja-se e por meio dos gestos o emissor busca uma compreensão do espectador uma vez que o entendimento verbal está totalmente comprometido.
Às vezes me sinto falando em blablação para os outros. Tento me fazer compreender, algumas frustrações, reclamações, dúvidas. Recebo, frequentemente, um sorriso amarelo em resposta ou – o que considero muito pior – uma resposta que em nada condiz com minha pergunta. Isso ocorre frequentemente quando converso com minha mãe, por exemplo, que tem o dom absoluto de interpretar errado tudo aquilo que digo.
Não posso, porém, culpar os receptores a minha volta. Cada vez mas eu sinto que a falha está em mim, no meu modo de dizer as coisas e tentar fazer com que captem meus sinais. Mas tampouco me culpo porque exprimir em palavras algumas idéias é tão difícil quanto entende-las. Isso tem ocorrido mais do que frequentemente quando tento explicar aos outros minhas propostas de reformulação do curso de jornalismo da ECA. A sensação que eu tenho, ao debater alguns tópicos fundamentais com outros colegas, é que entramos em uma discussão impertinente que muitas vezes sequer diz respeito ao ponto principal que eu, outrora, defendia. Por vezes esses questionamentos todos cansam, irritam, e o debate se torna um cachorro correndo atrás do próprio rabo – que, após inúmeras voltas, está tão cansado que desiste da tentativa.
Vontade não me falta em falar o que não é inteligível de uma vez. Chutar o pau da barraca para completar esse processo todo, passando a falar uma língua só minha. Sem necessidade de ser entendido. Se não me engano o Arnaldo Baptista fez isso certa vez – ficou sendo conhecido como louco, claro. Mas eu entendo, sinceramente, porque falar, falar, falar, repetidas vezes sem um fio de compreensão por parte dos que te cercam cansa. E muito! Ficaria tudo na intenção e a necessidade de se esforçar para promover a interpretação seria dos outros – não mais minha, agora sequer ligando para me fazer entender.

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